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terça-feira, 15 de novembro de 2016

Projeto Espanha e Portugal - 2000 km

   Sei que estou devendo o relato da pedalada entre Rio Branco e Cusco, porém a vontade de se aventurar mais uma vez pelo velho continente falou mais alto. Novamente farei uma pedalada com o grande Marco Brandão e ao julgar pela experiência que tivemos pedalando juntos em julho de 2015, essa nova empreitada também será um sucesso.
   A ideia é pedalar por: Bilbao, Lagos de Covadonga, Picos de Europa, Monte Angliru, Peregrinação de Santiago de Compostela, Vigo, Porto, Estrada 222 (a melhor do mundo em 2015), Serra da Estrella, Coimbra e Lisboa.

   Abaixo deixo o roteiro, o álbum com todo o planejamento e o texto escrito pelo Marco, explicando como surgiu a ideia dessa nova aventura

https://www.facebook.com/PedalandoSFronteiras/photos/?tab=album&album_id=581332765377797


Texto do Marco:

   NOVO PROJETO [ VERSÃO PARA QUEM GOSTA DE LER UM POUCO MAIS ] :D

   Agora finalmente, podemos responder a pergunta habitual que todos nossos amigos do dia a dia fazem:
   E então seus malucos, para onde é a próxima ? kkkkkk
  O roteiro da nova empreitada surgiu através de meses de conversa que o Aramis e eu travamos pelos undergrounds do whatsapp e facebook. Debatemos muitas opções de lugares. Escolhemos, decidimos, planejamos e estudamos o roteiro a seguir:
   A partida se dará na cidade de Bilbao comunidade autônoma do País Basco na Espanha, que só para não ser diferente, é uma cidade cercada por cadeias de montanhas, até porque a Espanha é um dos países mais montanhosos da Europa. ( Obrigado Aramis eu queria apenas Portugal, e você começou a colocar as montanhas do Giro de España no roteiro só para me lascar, valeu ... kkkkkkk )
   Ou seja, partindo de Bilbao seguiremos rumo a Cordilheira Cantábrica em direção ao Parque Nacional de los Picos de Europa ( acho que esse nome já explica tudo né ? ). Em seguida, para a fronteira com a Castilla até a exuberante região dos Lagos de Covadonga. Passando pelas Astúrias, Castela e Leão, Pico Angliru ( uma das maiores montanhas do Giro de Espanha ) e pelo caminho francês da peregrinação, pretendemos chegar a Galícia, mais precisamente na internacionalmente famosa cidade de Santiago de Compostela, um dos destinos de peregrinação cristã mais famosos do mundo. Dizem que o peregrino que vai a Santiago sofre grandes mudanças interiores. Eu me arrisco a dizer que quem viaja de bicicleta também sofre grandes mudanças, afinal tudo está ligado a fé, determinação, persistência, penitência, abdicação e humildade.
   Em Santiago estaremos praticamente com metade do percurso pedalado, e o próximo passo, é seguir no caminho de peregrinação português, nesse caso no sentido inverso, ou seja, voltando para Lisboa cruzando a fronteira entre Espanha e Portugal. Entretanto, montamos esse caminho com interesse de percorrer e conhecer alguns lugares da terra natal da minha mãe e minha família.  Escolhemos conhecer um pouco da região costeira, nas cidades de Vigo e Porto, e para deixar o percurso ainda mais especial no quesito “ subidas “, pretendemos fazer um desvio para o interior, seguindo o rio Minho até alcançar a região montanhosa de Portugal onde está localizada a famosa Serra da Estrela, que para nós aqui no Brasil, se equivale a Serra do Rio do Rastro, com direito a muita neve e frio na estação de inverno. Lembrando que estaremos em pleno verão europeu, e eu só torço muito para que não façam temperaturas muito altas, porque eu prefiro mil vezes o frio.
    Contornando e subindo toda a região do Parque Natural da Serra da Estrela, voltaremos sentido Coimbra, passando pelas cidades de Fátima e Leiria, com o objetivo final de chegar a capital portuguesa, Lisboa.
   Lá estando, quero tirar uma foto com meu primo Nuno Alves, visitar o bairro onde viveram os avós que me criaram ( Celda e Chico ) e onde permeiam todas as histórias por eles contadas de uma Portugal sofrida nas mãos do ditador Salazar, grande motivo de imigração portuguesa a procura de melhores condições de vida e trabalho no Brasil na época. Conhecer o estuário do rio Tejo de onde saíram as Caravelas que aqui no Brasil aportaram no ano de 1500, apreciar bastante a culinária portuguesa, beber vinho do Porto e comer muitos pastéis de Belém em Belém, e finalmente ver a cabeça do bacalhau. Kkkkkkk :D
   Muita gente tem curiosidade sobre os CUSTOS de uma viagem como essa. Eu diria que estando com o passaporte em ordem, a despesa maior fica por conta da passagem,que nesse caso troquei por milhas do cartão de crédito ;) ... estando no lugar escolhido para pedalar, dispomos de barracas para dormir em Campings e Albergues por 10 euros, compramos comida nos mercados e preparamos ( é barato ), e quando não, qualquer refeição de 6 euros enche o bucho. Água tem a vontade pelo caminho, além da hospitalidade que por muitas vezes trocamos e conseguimos com carisma, amizade e boa conversa.
   Outra curiosidade a ser esclarecida: as bikes não são ultra bikes, são mountain bikes que podem custar em torno de 850,00. Já vi cicloturistas por aí viajando de Barra forte ... ;)
   Acho que desta vez não teremos problemas com o idioma ... kkkkkk
  Contamos muito com a boa energia, apoio, respaldo e torcida de nossos familiares e amigos ! E desde já em AGRADECEMOS IMENSAMENTE, todo o o carinho e apreço recebido ao longo desses anos de amizade, seja no dia a dia ou na internet. MUITO OBRIGADO MESMO !!!
   Nos organizamos e nos esforçamos muito para mais uma vez fazer algo que gostamos demais, viajar de bicicleta por alguns dias. Interagir com o meio, somar e dividir !
   Onde está seu coração, aí está o seu tesouro.
Deus abençoe cada um de nós !


RELATO

Deslocamento até Bilbao - 

   Depois de muita pesquisa e planejamento (o maior que já fiz, vejam as fotos) havia chego o dia da viagem.













   Acordei cedo, fui trabalhar e ao voltar para casa na hora do almoço descobri que a minha carona tinha ido por água abaixo. Puts, que droga! Sem saber o que fazer fiquei muito nervoso e enquanto terminava de arrumar as coisas chamei para um táxi para me levar à rodoviária de Paranaguá. Ao chegar lá descobri que o ônibus para Curitiba já tinha partido e não daria tempo de chegar ao aeroporto pegando o próximo ônibus. A única opção foi ir de taxi pra Curitiba, mais ou menos uns 80 quilômetros. Combinei um preço com o taxista e lá se foi uma grana, mesmo sem começar a viagem. 
   Ao chegar no aeroporto de Curitiba outro problema: como o meu voo era apenas doméstico ( comprei uma passagem separada) tive que gastar mais um pouco por causa do excesso de bagagem. Estava com 10 quilos a mais.
   Pois bem, depois de tudo isso apareceu outro perrengue: o voo demorou um pouco, mas no fim consegui chegar em cima da hora em Guarulhos, onde o Marco estava me esperando, a tempo de pegar o avião que nos levaria pra Portugal.
   Com tudo certo e visivelmente mais calmos, nos despedimos do Alexandre e do Nathan (filho do Marco). Já no avião, jantamos carne, salada, queijo, presunto e outras coisas. Depois bastou dormir, dormir e dormir até chegarmos, às 11 45, na capital portuguesa.
   No aeroporto de Lisboa tivemos um bom tempo para descansar e esperar o voo para Bilbao. Fizemos os trâmites, trocamos dinheiro e esperamos. Nessa espera passeamos por várias lojas e numa delas encontramos um manequim vestido como uma típica portuguesa e até brincamos sobre ter encontrado uma namorada logo no início da viagem...hehehe.



   Às seis horas da tarde fomos para Bilbao num avião que eu nunca tinha voado: com hélices. No começo a tensão foi grande, mas tudo ocorreu bem, chegando no destino lá pelas 8 da tarde.

   O desembarque em Bilbao dessa vez foi diferente do ano anterior em Veneza, onde nossas bikes foram extraviadas. Dessa vez nada foi perdido. Nenhuma bike e nenhum adereço. A única coisa foi que o Marco descobriu ter esquecido a barraca e o isolante térmico na casa dele e a princípio a ideia foi de comprar esses itens logo no primeiro dia.


   Começamos a montar as bikes e assim como fazemos em todas as viagens, colocamos a máquina digital para filmar esse nosso serviço e nos distraímos. De repente um funcionário do aeroporto levou o carrinho aonde estava a máquina, mas só fomos perceber isso depois de uns 5 ou 6 minutos. Então o Marco saiu correndo atrás de alguém do aeroporto perguntando se tinham visto a câmera, mas como ninguém tinha visto nada continuamos as montagens das bicicletas. Como tudo pronto pra partir e, na medida do possível, conformados com a perda da câmera, um funcionário veio pedir mil desculpas pelo ocorrido e informou que isso nunca havia acontecido. Paciência.



   Pedalamos um pouco, paramos pra registrar o início da viagem e magicamente o mesmo funcionário que pediu desculpas chamou o Marco e avisou que haviam encontrado câmera. Entregou o nosso pertence e não falou mais nada sobre o assunto, porém associamos que foi um outro funcionário do aeroporto que tinha surrupiado o objeto. Ainda bem que no final tudo deu certo e saímos felizes da vida com as duas câmeras digitais. Começamos a nossa empreitada pela Espanha e Portugal às 10:00 da noite. Ufa!
   Tiramos foto na placa que indicava o aeroporto e a cidade de Bilbao e percorremos sete quiilômetros. Não chegamos em Bilbao pois havia uma autoestrada e não conseguimos encontrar uma estrada vicinal, isso foi falha no planejamento. Droga! Ficamos perambulando, nos perdemos um pouco e como a noite já havia caído, resolvemos ficar em Zamudio - região metropolitana de Bilbao. Chegamos um local bem bonito, com uma igreja e uma torre sendo iluminadas pelas luzes cidade. Perguntando encontramos um hotel, mas antes do check-in resolvemos comer algo no restaurante ao lado. Pedimos a janta mais barata e só depois descobrimos que eram cogumelos e polvo. Éca, odeio polvo, mas era o que tinha pra comer. Comemos tudo com a ajuda de uma coca-cola para descer mais rápido...hehehe.














   Entramos no hotel, tomamos um banho e ainda assistimos o jogo da Eurocopa: Itália e Alemanha. Nosso primeiro dia na Espanha foi tumultuado, porém tudo vale a pena agora que já passou...rs

Zamudio - Pedrosa de Valdeporres - 115 km - 03/07/2016 

   O segundo dia começou com um belo café da manhã antes de sairmos, logo depois das nove, em direção em direção a Bilbao. A ideia era seguir o planejamento, mais caímos numa rota alternativa que fazia parte do Caminho do Norte de Santiago de Compostela.
   No começo desse caminho tudo estava perfeito, mas de repente pegamos uma parte de terra úmida, com subida. Tivemos que empurrar em alguns momentos, pois a bicicleta carregada não tinha tração no terreno úmido e liso. Sofremos por uns dois quilômetros e pudemos ter uma pequena noção de quão dura é a vida de um peregrino...hehehe.







   Após esse "trekking'" logo no início do dia, voltamos ao asfalto e nos deliciamos com um bom declive até encontrarmos alguns policiais e confirmarmos o trajeto. Tudo Ok! Seguimos tranquilamente e entramos na famosa cidade de Bilbao. Um ciclista nos ajudou e foi direcionando nosso caminho pela belíssima cidade. Atravessamos o centro, pegamos uma ciclovia à beira do rio, passamos na frente do estádio do Atlétic de Bilbao e só então chegamos na estrada planejada para o início do dia, a BI-636.


















   As horas já marcavam 10:30, nós estávamos com míseros 20 km pedalados e teríamos mais cento e poucos pra fazer. Naquele momento ficou meio óbvio que a gente não iria chegar no destino do dia e isso acarretaria mais distância a ser percorrida nos dias seguintes. Que M...! 
   Ao sairmos da cidade de Bilbao a BI-636 era bem tranquila, apesar de um sobe e desce leve. Pedalamos poucos quilômetros e fizemos uma parada num posto de gasolina para comprar algumas coisas: bolachas e sucos. Nesse momento aproveitei para arrumar/trocar o parafuso que segurava o selim, pois o que eu havia colocado no aeroporto não segurava o canote e quando me dava conta estava pedalando quase no chão...hehehe.






   Depois fomos pedalando tranquilamente por 50 km até Balmaseda. Nesse trecho encontramos um ciclista de speed que conversou com a gente e tirou algumas dúvidas sobre as regras de trânsito da Espanha, inclusive aquela que na Espanha ciclistas podem pedalar em dupla (lado a lado). A resposta foi que em algumas regiões essa lei é válida, porém nos aconselhou a não abusar. Resolvemos pedalar em fila indiana mesmo...hehehe







   Na chegada a Balmaseda havia uma festa na cidade e o pessoal estava fazendo competição de lenhador, isto é, ganhava quem cortasse um tronco em menos tempo. Filmamos um pouco e fomos numa lanchonete comer torta salgada e tomar um refrigerante. Esse seria o nosso almoço. 
   Depois do "almoço" fomos pro centro da cidade. E que cidade encantadora. Com igrejas, flores, povo fazendo festa, pessoas tocando gaita de fole, vendedores ambulantes fazendo a típica paella (paeja ou paelha) num caldeirão. Até brincamos que a gente queria ir embora, mas a cidade de Balmaseda não deixava...rs













   Pois bem, demoramos mas seguimos e logo encontramos a divisa de regiões: Biskaia (País Basco) e  Castilla y León (Castilha e Leão). Fizemos os devidos registros e seguimos até uma vila chamada La Presilla, onde tomamos mais um refrigerante e comemos algo. Nessa hora lembro de ter mostrado a minha sapatilha pro Marco, pois a mesma estava descolando a sola e a ideia foi colocar aquelas presilhas chamadas de enforca-gato. Que ironia, colocar presilhas na vila de La Presilla...hehehe. OK, OK, essa foi horrível...hehehe






   Após essa parada estratégica, começamos o Puerto el Cabrio. Puerto é o nome que dão para os passos de montanha na Espanha.
   Pelo planejamento essa montanha seria a primeira da viagem, com inclinações de 8% a 11% em 12 km. Porém ela acabou sendo a segunda, porque a primeira foi aquela que fizemos no começo do mesmo dia, no trecho alternativo do caminho de Santiago de Compostela.
   Demoramos aproximadamente 2 horas, debaixo de um sol de 40 graus, para subir. A parte boa ficou por conta da quilometragem que acabou sendo de 9 km em vez de 12 e da paisagem. A partir do momento que começamos o aclive vimos formações rochosas do Parque Nacional Ojos de Guarena e ao completarmos o desafio estávamos quase do lado dessas formações. Tiramos muitas fotos da subida e principalmente do topo, com 740 m de altitude.






































   Depois pegamos uma descida de uns 10 km até Bercedo, onde paramos pra pegar água numa bica. Aqui vale destacar que, assim como vimos na Itália, na Suíça e na Áustria, alguns locais da Espanha tem uma bica/fonte de água potável disponível na calçada. Pegamos água sem se preocupar com possíveis problemas intestinais...hehehe.
   Nesse momento levamos baita um susto, pois os espanhóis falam muito alto e de repente um homem apareceu falando/gritando com uma criança (provavelmente seu/sua filho/a) e pensamos ser com a gente. Quando descobrimos que o indivíduo estava apenas conversando com a criança, rimos do ocorrido.


   Sabíamos que a parte mais difícil do dia havia passado, porém pelo planejamento faltavam uns 50/60 km pra chegar no destino: La Poblacion. Obviamente sabíamos que não seria possível, pois as horas já estavam avançadas e o cansaço já era grande. Decidimos seguir pedalando até o início da noite.
   Pegamos a estrada B1542, paramos em Espinosa de los Monteiros para comer algo e tirar fotos de uma bandeira espanhola e depois seguimos por um belo trecho que fazia parte do caminho do norte de Santiago de Compostela. Aqui vale ressaltar que o nosso roteiro não foi programado para o Caminho de Santiago, mas em muitos trechos, ele cruzava com o famoso trajeto de peregrinação, inclusive nos últimos quilômetros até Compostela (8º e 9º dias).
   Seguimos curtindo o visual do parque Ojos de Guarena do lado esquerdo. Realmente as formações rochosas do parque são uma atração e tanto, podemos dizer que valeu a pena planejar passar por lá.
   No final de tarde chegamos na vila/cidade de Entrambosrios, onde tiramos uma foto imaginando ser o fim da pedalada diária, entretanto não encontramos um bom lugar pra ficar e tivemos que seguir mais um pouco.

















   Enfrentamos uma subida de 3 km e a rochas ficaram mais perto ainda. Para melhorar, o sol estava se pondo, deixando a vista mais linda.
   Sem a luz solar, descemos um pouco e chegamos na cidade de Pedrosa de Valdeporres, onde tinha um albergue do Peregrino que por sorte tinha reaberto a pouco tempo e por isso nem exigiram a credencial de Peregrino.




   O dono do albergue se chamava Jesus e com esse nome é claro que ele nos ajudou....hehehe. Levou-nos até uma pizzaria, onde pudemos comprar algo com mais sustância do que as bobeiras que comemos durante o dia. Levamos a pizza para o albergue e jantamos na companhia de Jesus...amém. Fomos dormir perto da meia-noite, sabendo com o dia seguinte seria bem puxado em relação a quilometragem.

Pedrosa de Valdeporres - Pesaguero - 144 km - 04/07/2016 

   Após umas boas horas de sono, acordamos às 6h da manhã com um tempo nublado para tomarmos o nosso café composto de pizza e bolacha do dia anterior. 
   Depois nos despedimos do Jesus e sua filha e sairmos às sete. Logo de início enfrentamos uma subida de 4 km até a cidade de Argomedo. A subida era íngreme, porém a paisagem era bonita, pois ainda estávamos dentro do Parque Nacional Ojos de Guarena.
















   Vencido esse primeiro desafio do dia, despencamos até a cidade de Soncillo, onde viramos à direita e pegamos uma região muito parecida com os campos de cima da serra, no Rio Grande do Sul. O tempo estava nublado e isso ajudou o deslocamento, mesmo com um sobe e desce constante.
   Passamos por pastagens e lagos durante uns 11 km até que viramos à esquerda e contemplamos o lago Ebro. Pena que o tempo estava nublado, caso contrário seria uma visão ainda melhor. 
   Seguimos beirando esse lago até que encontramos a placa de entrada da região da Cantábria, onde tiramos fotos e filmamos bastante.
















   Nesse momento estávamos na cidade/vila de Corconte e bastou-nos avançar mais um pouco para chegar em La Poblacion, onde deveríamos ter chego no dia anterior. Paramos numa vendinha, compramos pistaches e tomamos chocolate quente, saindo somente às 10h.
   Logo após esse primeiro pit-stop vencemos outra subida íngreme e pedalamos num "plano" até Bolmir, cidade próxima de Reinosa. A metade do dia já havia chego e resolvemos fazer mais uma pausa rápida antes da parada oficial para o almoço.
   Em Bolmir nos deliciamos com iogurte, chocolate, amendoins e uma boa prosa com o dono de uma mercearia.










   Valeu a pena ter feito essa pausa, pois ao seguir tínhamos uma subida de nove quilômetros. Viramos à esquerda, enfrentamos a subida e apreciamos muito o trecho, que continha algumas vilas antigas (incluindo uma com nome de Mataporquera...hehehe) e uma estrada bem legal. O que não estava legal era o sol escaldante que resolveu aparecer...rs




















   Exaustos, principalmente por causa do sol, chegamos em Aguilar de Campoo e não sossegamos até encontrar um local para almoçar. Pergunta vai, pergunta vem, encontramos um restaurante espetacular e enchemos o bucho. Enquanto eu comi frango, fritas, salada e macarrão, o Marco trocou o frango por bacalhau. Muiiiiito bom!
   Aqui vale destacar que nessa cidade fizemos questão de tirar uma foto em homenagem ao nosso amigo Bruno Aguilar...hehehe









   Seguimos nosso destino e 23 km mais tarde chegamos em Cervera de Pisuerga, onde iriam começar outras subidas. Então fizemos mais uma parada estratégica pra refrescar o corpo, pois como já foi dito aqui, o sol começou a castigar no período vespertino. Primeiro fomos num supermercado e depois visitamos uma loja que continha artigos para camping, onde o Marco comprou um isolante térmico. A barraca ficou pra outro momento, pois as que tinham no estabelecimento eram muito grandes.

















  Logo na saída de Cervera começamos a penúltima subida do dia, já dentro do Parque Nacional Fuentes Carriones y Fuentes Cobres. Foram quatro quilômetros, debaixo de um sol escaldante, até um mirante onde pudemos tirar foto das montanhas do parque e, ao fundo, das montanhas dos Picos de Europa, que seriam enfrentadas em seguida. Haja subida!
   Ficamos descansando uns 30 minutos no mirante até seguirmos por um pequeno trecho plano e depois uma descida até a cidade Vannes. Nem entramos na cidade porque fomos pro outro lado, onde tem um lago. Fizemos um vídeo bem bonito da descida do lago e quando atravessamos uma ponte que passava por ele, começou a nossa última subida/montanha do dia.


























   O bom de fazer um planejamento minucioso é que já sabíamos de todas essas subidas/montanhas citadas, ou seja, o nosso psicológico já estava preparado. Por exemplo, tínhamos a consciência que essa única montanha teria 17 km com 400 m de desnível e seu nome era Piedras Luengas. 
   No começo da subida a velocidade era de 15 km/h, mas a medida que o tempo foi passando a inclinação aumentou e o nosso ritmo diminuiu. Quase no final, faltando uns 7 km, uma densa neblina fechou nosso campo de visão, mas mesmo assim ficamos boquiabertos com o visual fantástico das formações rochosas nos últimos quilômetros. O final ainda nos reservou uma imagem fantástica, pois passamos entre as rochas, como se fosse a serra do Corvo Branco, em Santa Catarina.

























   No topo apenas registramos o momento, colocamos o anorak e iniciamos a descida de aproximadamente 40 km. A ideia era fechar o dia no fim da descida, na cidade de La Hermida e assim deixar o atraso de 20 km que tínhamos. Entretanto uma das coisas que são praticamente imprevisíveis, sendo inviáveis para colocar no planejamento, é o tempo. Foi ele nos fez parar no meio da descida, pois enfrentamos, no escuro, uma tempestade com muitos raios e trovões. Parecia cena de filme de terror...hehehe







   Encontramos um hotel logo após a placa que indicava a cidade/vila de Pesaguero. Tremíamos de frio na porta do hotel e mesmo o preço não sendo muito convidativo, era o que tinha pro dia. Tomamos um banho bem quente, jantamos e dormimos perto da meia-noite novamente.




   Completamos 144 km no dia, menos do que a gente tinha planejado, mas isso não ia mudar em nada nosso planejamento do dia seguinte.

Pesaguero - Picos de Europa - Benia de Onis - 104 km - 05/07/2016 

   O terceiro dia de pedalada na Espanha começou cedo com o término da descida que interrompemos no dia anterior por causa da chuva. Descemos com um pouco de frio até o trevo que vai pra cidade de Potes, onde paramos pra tomar um café.








   Aqui vale destacar que esse terceiro dia era um dos temidos da viagem. Temidos e mais importantes e, porque não dizer, mais ansiosos da viagem. Tudo pelo motivo de ser um dia com uma montanha mítica da Vuelta a España: Lagos de Covadonga, onde algumas vezes os melhores ciclistas de estrada duelaram em cada curva. Mas é claro que para chegar nessa famosa montanha, antes deveríamos percorrer um longo trajeto e por isso paramos para o, já citado, café.
   Com a pança cheia viramos pra direita no trevo, entramos no Parque Nacional Picos de Europa e começamos atravessar o desfiladeiro La Hermida, que fica entre as regiões da Cantábria e das Astúrias. Um lugar fantástico.


















   Seguindo o curso do rio Deva, sempre ao nosso lado, momentos à direita, momentos à esquerda, dependendo número de pontes que atravessávamos, fomos avançando pelo desfiladeiro, sempre com os picos Europa do lado esquerdo. As montanhas eram muito parecidas com as Dolomitas e isso nos fazia admirar ainda mais aquela região. Aproveitamos ao máximo esse trecho, inclusive "perdemos" a chance de ter mais um companheiro de viagem por causa da paisagem: Encontramos um ciclista francês chamado François, porém apenas trocamos poucas palavras, pois ele não falava nem espanhol, nem inglês e obviamente nosso francês é quase nulo. Além disso ele estava num ritmo maior, enquanto a gente queria curtir o local.















   De repente começou uma garoa que durou todo resto do desfiladeiro, porém isso não tirou a beleza do lugar. Entramos nas Astúrias, tiramos foto na placa, e decidimos mudar um pouco o roteiro: O planejado era virar à esquerda e já pegar uma montanha de 11 km, nos Picos de Europa, mas como o tempo estava ruim e a gente também atrasou nos dias anteriores, seguimos reto pelo desfiladeiro e paramos para um lanche na cidade de Panes às 11h da manhã.
   Molhados, sujos e com fome, compramos iogurtes, chocolates, bolachas, maçãs e devoramos quase tudo na frente do mercado/mercearia. Praticamente um piquenique na calçada...hehehe










  Depois fomos em direção a Arenas de Cabrales, com muitas subidas e poucas descidas. A região continuou belíssima, pois mesmo tendo mudado de direção ainda podíamos contemplar os Picos de Europa. O que havia mudado era o rio, que agora se chamava Cares e estava no sentido oposto ao nosso, ou seja, estávamos subindo...hehehe.
   Também podíamos ver as trilhas do parque, onde as pessoas podem caminhar e/ou correr com a vista do belíssimo rio de cor verde esmeralda.















   Em Arenas de Cabrales o Marco decidiu comprar um corta-vento, pois o dele tinha rasgado. Eu aproveitei o bom preço e comprei mesmo que ele, porém escolhemos cores diferentes. Um pouco mais adiante, em Poo de Cabrales, paramos num restaurante, pedimos o prato mais barato e nos saciamos com uma boa comida. O fim do almoço rendeu uma foto bem legal: Nós descansando tranquilamente, praticando o "deboísmo"...hehehe




   Após o almoço voltamos para o caminho planejado, ou seja, subidas. Devagar percorremos 10 km num aclive que começou leve, porém aos poucos foi ficando mais íngreme. Ao final podíamos ver a estrada percorrida e essa é sempre uma sensação boa, pois representava mais um desafio vencido. No topo estava a cidade de Ortiguero, onde sabíamos que iríamos despencar até Benia de Onis para depois começar a famosa montanha dos Lagos de Covadonga.













   Aproveitamos ao máximo a descida, viramos à esquerda e um misto de medo e ansiedade tomou conta de mim, afinal tínhamos começado a subidaça. 
   As horas marcavam cinco e pouco da tarde e como escurecia sempre 10:30 da noite, estávamos tranquilos em relação ao tempo. Porém logo nos primeiros quiilômetros descobrimos que o tempo seria pouco. Droga!
   Como devagar se vai longe, nossa velocidade não ultrapassa 5 km/h. Fomos curtindo o lugar, cada vez mais vendo as montanhas, cada vez mais curtindo a paisagem e depois de aproximadamente 6,5 km chegamos numa vila chamada Demues, onde iniciamos a parte mais ferrada da subida.









   Aqui vale lembrar que não estávamos subindo pelo mesmo lado dos ciclistas profissionais. Pegamos um caminho alternativo, bem mais íngreme em alguns momentos, e no dia seguinte a ideia era descer pelo lado "correto".
   Logo no início da parte mais complicada descobrimos que tudo pode piorar, pois o asfalto deu lugar a terra e em alguns momentos (nas partes bem íngremes) um concreto repleto de ranhuras para evitar fugas do gado (tipo um mata-burro de concreto). As inclinações nessas partes de concreto chegaram ao absurdo de 26%.

   Na marcha mais leve sofríamos para avançar. Devagar e com muita dificuldade, pois a nossa carga era grande, fomos avançando. O Marco estava com a marcha leve muito gasta, que a cada pedalada fazia um estralo bem forte. Para evitar maiores problemas com a relação (coroas, cassete e corrente) ele começou a empurrar nos trechos que exigiam muito da bike.
   Como se já não bastasse a dificuldade da estrada de terra com trechos altíssimos de inclinação ou o concreto cheio de ranhuras, a neblina voltou e à medida que aumentamos a nossa altitude ela foi se tornando uma garoa forte. Em pouco tempo estávamos completamente molhados e não enxergávamos 200/300 m a frente.
   Subimos, subimos e subimos até uma pirambeira acima de 25%, onde meu corpo já não aguentava mais. O Marco estava um pouco atrás, mas eu não o via por causa da neblina. Nesse momento eu tive que empurrar e lembro que o Marco gritava: Aramis, como está a subida aí? E eu respondia: Está tão complicada que estou empurrando...hehehe.
























   Pois bem, depois de muito sofrimento chegamos no topo, onde não tinha pra onde seguir. Havia somente uma trilha de pedras pontiagudas. Verificamos o local mas não conseguíamos ver muito além e com isso não dava pra saber se a trilha seria curta ou longa. Ali descobrimos um erro grave no planejamento. Como não vimos essa trilha? Por que não fomos pelo trajeto de asfalto? 
   Verificando a trilha tivemos que tomar uma decisão frustrante: voltar pelo mesmo caminho. Que M...! Se o tempo estivesse aberto pelo menos conseguiríamos ver os majestosos Lagos de Covadonga e talvez isso nos animasse a carregar as bikes pela trilha, porém isso não aconteceu e voltamos todo o trajeto descrito acima.



   E para quem pensa que a descida é mais tranquila, naquele momento não. Pois como a inclinação era muito grande e a neblina muito forte, a gente não conseguia frear e em alguns momentos tivemos que, literalmente, arrastar a sapatilha no chão, caso contrário rolaríamos morro abaixo...hehehe
   Novamente no asfalto continuamos descendo e lembramos que havia uma bica propícia para lavar as bicicletas que estavam imundas.
   Já no escuro chegamos em Benia de Onis, onde encontramos um hotel barato para um bom banho, uma ótima janta e uma bela noite de sono.




   Obs: depois que a viagem acabou, já em casa, descobri que a trilha tinha um pouco mais de 1 km e isso me deixou mais frustrado ainda. Certeza que um dia volto para conhecer os Lagos de Covadonga.

Benia de Onis - Mieres - 100 km - 06/07/2016

   O quarto dia de pedalada foi bem tranquilo, com apenas 100 km bem monótonos.
  Como estávamos cansados dos dias anteriores, acordamos tarde e ainda eu pude dormir um pouco mais, pois o Marco acordou uma hora antes pra mexer na marcha que estava pulando, como relatado acima.


  Saímos um pouco tarde, 8:45 da manhã, pedalamos 15 km até Cangas de Onis e fizemos uma parada estratégica no centro da cidade: Eu precisava tirar dinheiro num caixa eletrônico...hehehe





  Depois seguimos por um trecho bem chato até Arriondas, onde pegamos a estrada N-634. Infelizmente a monotonia continuou.
   Nessa N-634 enfrentamos uma subida fraca, mas constante, encontramos um porco-espinho morto na pista, visitamos uma bicicletaria em Villamayor e paramos pra almoçar na cidade de Nava, com aproximadamente 55 quilômetros pedalados.
   Pra compensar toda a chatice do dia encontramos um belo restaurante com um garçom brasileiro (Edson), onde comemos sopa de bacalhau com grão-de-bico, sopa de camarões gigantes e carne de porco temperada com cidra. Foi uma delícia.










   Comemos muito, mas muito mesmo e após nos despedirmos do Edson decidimos cortar um pouco de caminho por dentro de Nava e das outras vilas. As subidas aumentaram, porém o caminho foi bem mais bonito e melhorou consideravelmente o nosso ânimo.
  Ganhamos alguns quilômetros e depois voltamos para o roteiro planejado, já na estrada AS-119. Enfrentamos uma subida de 2 km e depois uma descida alucinante de 10 km até a entrada da cidade de El Entrego. Contornamos essa cidade e seguimos para Sama com a ajuda de algumas informações coletadas com policiais.
   Em Sama fizemos uma pequena parada, pois sabíamos que o objetivo era transpor uma pequena montanha de cinco quilômetros. Montanha que, depois dessa pequena parada, foi vencida tranquilamente, apesar de ser bem íngreme em alguns trechos.



















   Terminada a subida, colocamos a câmera pra filmar e descemos com um começo de chuva. Foram uns 10 km até a cidade de Mieres, nosso destino do dia. As horas marcavam 17:45, ou seja, terminamos bem cedo o trajeto do dia. O problema foi encontrar um local pra ficar, pois primeiro ninguém soube nos indicar um hotel barato e quando finalmente achamos um albergue do peregrino, não fomos autorizados a ficar, porque não tínhamos a tal credencial. Pelo menos o pessoal do albergue nos mostrou a direção de um hotel, onde conseguimos descansar e nos alimentar bem, pois o próximo dia seria um daqueles temidos: O dia de subir a mítica montanha do Angliru








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Mieres - Angliru - Pola de Lena - 61 km - 07/07/2016 

   Um dia mágico, muito difícil, mas mágico. 

   Acordamos cedo, tomamos café no hotel e saímos às 7:50 com uma grande meta: Subir pedalando a temida e mítica montanha do Angliru, conhecida como o inferno dos ciclistas. Uau!
Para quem não conhece a fama do Angliru, veja os últimos cinco minutos do vídeo abaixo, onde tem-se a última etapa da Vuelta España 2017.

   Pois bem, pedalamos míseros 11 km bem tranquilos, pela estrada N-630, até Santa Eulalia de Morcín e depois começamos a subir os 18 km programados. Dezoito quilômetros? Não seriam 12,5? Sim para as duas perguntas, pois estávamos fazendo a subida por um outro lado e com isso a distância seria maior que os oficiais 12,5 km do Angliru.






   Devagar fomos avançando "sem" muitas dificuldades nos cinco primeiros quilômetros, onde se encontra a localidade de El Pumar. Depois a estrada intercalou pequenos trechos de descida leve e aclives bem fortes até a bifurcação programada para entrarmos na rota original da montanha e, por consequência, na parte mais difícil.
   Acho que nem é preciso dizer quão bonito era o local, com uma estrada estreita e bem sinuosa que ia avançando em meio à pequenos vilarejos. Junte a tudo isso uma forte neblina e muito verde pelo caminho. Show!














   Na bifurcação ficamos alguns minutos descobrindo o caminho a seguir e o Marco verificou que um dos caminhos era só o acesso a uma lanchonete...hehehe
   Então fizemos uma parada estratégica para repor as energias (tomando um refrigerante) e conhecemos um casal que também iria ao topo do Angliru. Porém éramos os únicos malucos a subir carregados.
   Nossa partida da lanchonete se deu por volta das 11h, antes do casal. Conforme planejado percorremos 1km quase plano e depois nos ferramos....hehehe
   Utilizávamos a marcha mais leve possível e mesmo assim a força aplicada nos pedais era descomunal. As inclinações começaram a ficar num intervalo entre 10 e 24 % durante 6,5 km, ou seja, muito difícil.
    Estávamos sofrendo, mas também estávamos curtindo o momento. Não é todo dia que nossos limites são postos à prova num local mítico e espetacular.






Após dois quilômetros e meio de puro sofrimento, ultrapassamos as nuvens (neblina) e a região se mostrou ainda mais bela. O problema é que, sem a densa neblina, o sol passou a ser mais um desafio a ser vencido.
   Devagar, mas bem devagar mesmo, continuamos a subida, tirando muitas fotos e registrando tudo em vídeos curtos. Em diversos trechos há placas indicando o nome e a inclinação daquela parte e sinceramente acho que isso não fazia bem pro meu psicológico, pois o sofrimento vinha com antecedência....hehehe
   De repente o casal que encontramos na lanchonete nos passou, porém em alguns momentos eles empurraram, nós não. 
   Subíamos um trecho bem complicado, descansávamos um pouco e partíamos pra outro trecho igual ou mais difícil ainda. Assim fomos avançando até uns 500m antes do fim, onde o terreno fica praticamente plano. Então comemoramos muito e chegamos na placa que indica o Alto do Angliru com um sorriso enorme estampado no rosto. Foi impressionante, menos de dois dias depois de uma frustração nos Lagos de Covadonga, estávamos radiantes com a conquista do Angliru.




























































   Fizemos todos os registros possíveis e começamos a descida pelo mesmo caminho que subimos. Acho que é o único caminho...hehehe
   Não vou relatar a descida, mas deixo abaixo os vídeos que mostram a subida e a descida, respectivamente:


   Pra finalizar o dia, almoçamos na mesma lanchonete citada anteriormente, descemos pelo caminho original até La Vega, enfrentamos um outra montanha e despencamos até a cidade de Pola de Lena, onde finalmente conseguimos uma credencial do peregrino e uma estadia num albergue. Aqui vale destacar que a outra montanha enfrentada tinha uma inclinação média de 8% em 8 km, mas estávamos num êxtase tão grande pelo êxito do Angliru, que simplesmente passeamos nela.











   No fim comemos um x-salada enorme e dormimos o sono dos justos.


Pola de Lena - Piedrafita de Babia - 95 km - 08/07/2016 

   Adivinhem, o sexto dia da viagem também seria repleto de subidas. E logo na saída de Pola de Lena já enfrentamos primeira, o Alto de La Cobertoria.
   Foram 10 km, sem nos alimentarmos direito, de um aclive bem complicado. A inclinação em muitos trechos era de 12%. A parte boa ficou por conta de uma densa neblina que, assim como no dia anterior, fez com que a gente não suasse tanto. Terminamos essa subida perto das 10 da manhã, registramos o momento e depois descemos bastante até a cidade de Bárzana, onde encontramos na beira da estrada uma cafeteria na qual conseguimos tomar um café da manhã.



















   Ficamos um bom tempo tomando café e apreciando o movimento da rodovia e saímos às 11:30 para entrar na região do Parque Natural de Las Ubiñas La Mesa, onde seguimos pela ciclovia del oso (ciclovia do urso). O legal foi quando a ciclovia atravessou um túnel, pois o mesmo ia sendo iluminado a medida que passávamos. Ficamos fascinados ao ver o investimento que fizeram. Parabéns Espanha.












 Infelizmente nosso caminho não seguiria pela ciclovia e quando voltamos para a estrada descobrimos ter passado o local de virarmos à esquerda. Voltamos um pouco, passamos pela vila de Caranga de Abajo e então seguimos o trajeto correto.
   Foi então que começou a segunda montanha do dia, com aproximadamente 30 km (16 tranquilos e 14 mais fortes). Podíamos ver o rio Teverga, alguns paredões de rocha e a ciclovia (que em algum momento deve ter se ramificado). Tudo muito parecido com o desfiladeiro La Hermida, exceto o fato de estarmos subindo dessa vez. Depois de alguns quilômetros a ciclovia desapareceu, porém o resto continuou até a cidade de San Martin, onde paramos para almoçar.















   Saindo de San Martin terminamos os primeiros 16 km da parte fácil da subida e iniciamos o trecho complicado. A região que já era bem bonita ficou espetacular quando ficamos ao lado de um paredão repleto de andorinhas. Registramos o momento e aproveitamos para fazer um vídeo nosso passando pelo local. Ficou show! Uma moça que cuidava dos passeios pelas cavernas da região veio conversar conosco e ao saber do trajeto completo da nossa viagem ficou admirada e disse que não éramos certos da cabeça....hehehe.





















   Depois fomos avançando tranquilamente até que, as sete e quarenta e cinco da tarde chegamos ao final de mais uma montanha: Puerto de Ventana.
   Enfim tínhamos completado as duas montanhas do dia, porém as emoções não pararam por aí. Isso porque a descida se revelou uma das mais bonitas da aventura, quiçá das últimas viagens. Parecia uma parte das Dolomitas misturada com uma linda vegetação amarela que estava sendo realçada pelo entardecer. Surreal! Foram 7 km de muita euforia com aquele presente da natureza. Fotos e vídeos eram feitos a cada instante, tudo para que aquele momento ficasse eternizado.










































   Em seguida passamos rapidamente pela cidade/vila de San Emiliano, pegamos uma bela estrada alternativa, para enfim entrarmos na CL-626, estrada na nos levaria até Villablino. Nesse momento a marcha do Marco começou a ter os mesmos problemas da subida de Covadonga, isto é, começou a estralar quando certa força era aplicada nos pedais. Com esse problema e com a luz solar indo embora, resolvemos parar na primeira cidade que aparecesse. E foi Piedrafita de Babia, onde rapidamente encontramos um hostel bem receptivo. Finalizamos o dia com uma boa prosa e um delicioso jantar, ambos oferecidos pela dona do hostel.
















   Abaixo deixo o vídeo dessa última subida que fizemos: Puerto de Ventana


Piedrafita de Babia - Vega de Valcarce - 121 km - 09/07/2016 

   Havia chego dia de entrar no caminho francês de Santiago de Compostela. Acordamos cedo e o Marco limpou a corrente que, no dia anterior, estava estralando. Depois tomamos café e saímos pra completar o resto da descida até Villablino.
   Infelizmente a corrente continuou estralando, obrigando-nos a fazer uma parada para colocar outra. Nesse momento descobri que a coroa média da bicicleta do Marco estava totalmente gasta, ou seja, independente da corrente instalada, continuaria estralando. Tínhamos que encontrar um bicicletaria urgente. Por sorte um ciclista passou pela gente e nos levou até uma, já na cidade de Villablino. Agradecemos o ciclista e ficamos admirados com o estabelecimento que continha inúmeras bicicletas, inclusive uma BMC de carbono. Uau!







   Javier, o dono do local, mesmo sendo avisado sobre a coroa do meio quis trocar apenas a corrente e o cassete e é obvio que na hora de testar, o problema continuou. Só então ele nos deu ouvidos e percebeu o desgaste da coroa média...hehehe. No fim deu tudo certo e o preço cobrado foi justo. Por falar em preço, enquanto a bike do Marco estava sendo consertada, aproveitei pra comprar uma sapatilha nova, pois a minha já estava com a sola caindo (veja as fotos do 1º dia)



   Após Villablino nosso destino era Ponferrada, já no caminho francês de Compostela, e o trecho se mostrou muito favorável, pois era repleto de descidas. O que complicou foi o calor de 40 graus que nos fazia parar toda vez que encontrávamos uma bica na beira da estrada para jogar água em todo corpo. Pense na sensação refrescante...hehehe.
   Entre banhos refrescantes e temperaturas escaldantes fomos avançando até a cidade de Páramo, onde literalmente paramos...hehehe. Desculpem o trocadilho. Ali encontramos um local para almoçar e descansar.
   A paisagem, diferente dos outros dias, se mostrou normal, ou seja, similar às estradas brasileiras. Teve uma represa que me lembrou a represa do Capivari, na região de Curitiba.










   Após o almoço seguimos tranquilamente até o momento que a pista virou uma autovia, onde imaginávamos não poder pedalar. Então fomos pra uma vicinal que continha algumas subidas. Porém essa vicinal acabou e tivemos que voltar para a autovia. Como ninguém reclamou, seguimos.
   Em Ponferrada apenas encontramos a melhor rota para ir até Cacabelos: a avenida da Galícia. Nessa avenida fizemos uma parada estratégica para tomar um refrigerante e um sorvete e depois percorremos 12 km até Cacabelos, onde vimos muitas pessoas tomando banho de rio, pois o calor estava muito forte. Perto do rio avistamos uma placa que dizia a distância até Santiago de Compostela: 220 km.













   Pra finalizar o dia, percorremos mais alguns quilômetros nas estradas de terra, sempre seguindo as indicações do caminho de Santiago, que é muito bem sinalizado. Vimos algumas plantações, passamos por várias vilas e contemplamos muitas igrejas históricas. 
   Chegamos em Vega de Valcarce às 22h e encontramos o albergue do Frânces, onde o dono é Alemão...hehehe. Nos instalamos e fomos jantar, deixando o banho pra antes de dormir. Pensem no estado que entramos no restaurante...hehehe.



































Vega de Valcarce - Palas de Rei - 110 km - 10/07/2016 

   Um dia bem cansativo. 
   Nossa saída se deu lá pelas oito e pouco da manhã e começamos a pedalada subindo tranquilamente até La Faba. No caminho podíamos ver muitos, mas muitos peregrinos. No início cumprimentávamos todos com a saudação tradicional "Buen Camino", porém como eram muitos resolvemos apenas acenar...hehehe.







   Após La Faba iniciamos oficialmente a subida denominada O Cebreiro. Com uma inclinação relativamente tranquila fomos avançando e apreciando a região. No meio da subida paramos na vila de Laguna, 7 km antes do topo, pra comermos alguma coisa.





   Depois a subida aumentou, mas bastou paciência para chegarmos ao topo. A mesma vegetação amarelada que vimos da descida de Puerto Ventana deixava o caminho bem atrativo, isso sem falar na energia positiva de ver inúmeros peregrinos compartilhando um mesmo objetivo. Realmente incrível. No topo sentimos aquela paz maravilhosa. Uma brisa leve e o canto de um pássaro são as magníficas lembranças que tenho do local. Depois fizemos o devido registro e começamos a descer, porém logo voltamos a subir até o Alto de San Roque, onde existe uma estátua do peregrino.









































   Tiramos foto na estátua e lá encontramos dois ciclistas principiantes: uma moça e um menino que tinham recém comprado as bicicletas e estavam fazendo, sem muita bagagem, essa parte do Caminho de Santiago de Compostela. Eles seguiram pelo caminho de terra, porém nós decidimos ir pelo asfalto.


   Aqui vale destacar que tanto a parte de terra, quanto o asfalto fazem parte do trajeto para Santiago. Fomos pelo asfalto por causa do pouco tempo que tínhamos pra chegar em Lisboa e imaginamos ser mais fácil, entretanto fomos surpreendidos com infinitas subidas. Ainda bem que entre algumas dessas subidas existiam bons trechos em declive. 
   Descemos alucinadamente por alguns quilômetros e depois tornamos a subir até o Alto do Poio, onde novamente despencamos até Triacastela, local no qual fizemos uma pausa para uma cerveja e alguns petiscos grátis ( amendoins e pequenos sanduíches ). Ficamos até sem graça em comer uma boa quantidade de petiscos, mas o dono nos disse que era um presente para todos os peregrinos.
















  De Triacastela até Samos enfrentamos novamente um sobe e desce, porém agora sob um sol escaldante. Nesse trecho encontramos 2 cicloturistas de Bilbao. Eles terminariam o dia em Samos e portanto a prosa foi curta. Samos é uma cidade pequena e, sem dúvida, a parte mais legal é o enorme monastério que ela abriga. Filmamos, tiramos fotos e seguimos para Sarria, onde iríamos almoçar.
   E adivinhem, até Sarria mais subidas apareceram...hehehe. Foram uns 10 km em ascensão e depois outros em declive. A cidade era bem maior do que as outras que havíamos passado naquele dia e pensamos ser um bom lugar pra encontrar um almoço barato. Pois bem, encontramos mas o atendimento foi tão ruim que fomos embora. 
   Cansados, com fome e indignados com a postura da atendente, saímos de Sarria e seguimos até Paradela. O caminho parecia infinito, pois tivemos outros 10 km em ascensão, mas chegamos. 
  Nosso almoço foi saboreado às cinco da tarde num bar/restaurante. Enquanto comíamos conversamos sobre o erro de planejamento, pois demos ênfase nas montanhas mais complicadas e esquecemos desse trecho do Caminho Francês de Santiago. Paciência.


























   Após a refeição descemos um bom trecho até Portomarin onde contemplamos o rio Miño. O mesmo rio pelo qual dias depois iríamos atravessar pela chegar em Portugal. Fotografamos o famoso rio espanhol e português e depois seguimos, subindo obviamente, 12 km até Ventas de Narón, uma vila da qual gostei bastante.





















   Em Ventas tentamos um lugar para dormir, pois as horas já estavam avançadas, porém tudo estava lotado e único jeito foi seguir até a próxima cidade maior chamada Palas de Rei. Nessa parte proseamos com um brasileiro que trabalhava com turismo na região, atravessamos uma rua principal e com o sol se pondo, fizemos os últimos quilômetros do dia numa região bem bonita e sem subidas...hehehe





















  Às 22h chegamos em Palas de Rei, encontramos o albergue Castro e por sorte conseguimos um quarto compartilhado. Depois jantamos vendo o título de Portugal na Eurocopa.


Palas de Rei - Santiago de Compostela - 70 km - 11/07/2016 

   Diferente do dia anterior esse foi bem tranquilo, pois durante os míseros setenta quilômetros percorridos o sol escaldante não apareceu e as subidas foram poucas...hehehe
   Degustamos um bom café da manhã no hostel e partimos com um único objetivo: chegar cedo para aproveitar a cidade de Santiago. 



   O bom é que a paisagem deixou de ser tão interessante e com isso fizemos poucas paradas para registros. Exatamente às dez da manhã fizemos uma pequena parada para comer bolachas num posto de gasolina da cidade de Árzua e minutos depois nos encontrávamos na estrada novamente.

   Já próximos de Santiago enfrentamos a única ascensão mais complicada, vimos a placa do aeroporto e saímos da estrada principal, pois a ideia era conhecer o monte do Gozo. Chegamos então num monumento ao peregrino e logo avistamos a tão desejada cidade de Santiago. Deixamos de lado o monte e fomos diretamente para a entrada da cidade, onde fizemos o devido registro na placa.
















   Depois bastou seguir em direção a catedral de São Tiago e no caminho passar por inúmeras construções magníficas. O problema é que a cidade é grande e isso nos deixou um pouco frustrados, pois quebrou um pouco o encanto de um centro de peregrinação. Eu disse um pouco. Na verdade só um pouquinho....hehehe
   O ápice do dia foi a chegada na catedral. Realmente a obra é incrível. Ficamos um bom tempo em frente a imponente construção e pudemos desfrutar da sensação de dever cumprido, pelo menos uma parte do dever. Havíamos completado mais uma meta da aventura: chegar na catedral de Santiago de Compostela. Yes! Foram 927 km de muita subida e muito calor. A próxima meta era chegar em Portugal, mas isso só pensaríamos no dia seguinte, pois um passeio por Santiago nos esperava...hehehe.















   Pois bem, saímos do centro, fomos procurar um albergue para ficar e acabamos encontrando um hotel com preço de albegue. Perfeito!
   Deixamos as coisas no quarto e saímos perambular pela parte histórica da cidade. Degustamos um ótimo almoço num restaurante repleto de cédulas e moedas de diversos países em suas paredes e depois conhecemos quase todo o centro, porém resolvemos adentrar somente na catedral. 
   Aqui vale destacar um fato curioso que percebemos: existem diversos músicos se apresentando nas ruas de Santiago e pareceu que eles não disputam espaço, mas sim revezam. Vimos cantores líricos, bandas, tocadores de gaita de fole e diversos outros artistas no mesmo local, porém em horários diferentes...heheh.





























   Dentro do segundo maior centro de peregrinação católica do mundo ( o primeiro fica no Vaticano) pudemos ver a majestosa obra que atualmente contém traços góticos, barrocos e renascentistas. Contudo, a parte mais espiritual foi ver o túmulo do apóstolo Tiago, filho de Zebedeu. Esse foi um daqueles momentos que você respira fundo e sente uma emoção grande invadir o coração. Ufa!




   Depois até esquecemos de pegar o nosso certificado de conclusão do caminho e fomos para o hotel descansar. Paciência, o importante é que esse dia ficará guardado para sempre em nossas memórias.


Santiago de Compostela - Sabaris - 120 km - 12/07/2016 

   Como dito anteriormente a nossa meta agora era chegar em Portugal, porém não chegaríamos nesse dia. Comemos alguma bolachas no "café da manhã" e partimos dando um adeus definitivo a Santiago de Compostela.
  No começo pegamos um trecho do caminho português, mas depois seguimos nosso roteiro específico e pudemos avançar tranquilamente pela N-550. Em pouco tempo chegamos em Padron, depois enfrentamos uma subida forte perto de Condide e paramos para almoçar em San Antoniño. Nessa parte do trajeto nos deparamos com várias cidades cujos nomes eram bem engraçados pra nós brasileiros. Aproveitamos para tirar fotos bem bizarras...heheeh

























   Após o almoço pegamos uma boa descida até Pontevedra e ficamos maravilhados com a cidade. Isso que conhecemos somente uma pequena parte da cidade: o rio Lérez com a Ponte do Burgo e em seguida a Ria de Pontevedra. Foi o primeiro momento do dia que paramos para curtir a paisagem. Show!




















   A saída de Pontevedra foi um pouco difícil, pois de repente o nosso roteiro entrou numa autopista e automaticamente fomos alertados por alguns motoristas que são poderíamos pedalar naquela estrada. Então começamos a olhar o mapa no celular para buscar uma rota alternativa. Tivemos que atravessar a cidade e isso nos custou um tempo precioso. 
   Enfim estávamos no caminho para Vigo, com muito trânsito e um sobe desce tranquilo. Então começamos a ver algumas praias, que mesmo sendo "feias" nos deram um ânimo para seguir. Numa delas (Cesantes) tomamos um refrigerante e vimos uma atendente linda, com cabelos cacheados fantásticos. Eu, que sou solteiro "me enamoré"...hehehe.
   Brincadeiras deixadas de lado, o legal é que estávamos contornando essas praias e conforme avançávamos a vista melhorava, pois o mar, ou um braço de mar, entrava e formava as praias. No fim delas vimos a gigantesca Ponte de Rande que fazia parte da autopista pela qual não podíamos pedalar. 




















   Depois seguimos mais alguns quilômetros até a cidade de Vigo, onde novamente perdemos um bom tempo atravessando o centro repleto de carros e semáforos. Tudo porque havia um pequeno túnel em nosso roteiro e obviamente não pudemos atravessá-lo. Eu já disse aqui que odeio cidade grande?...hehehe








   Pois bem, após a aventura no centro de Vigo chegamos nas praias e magicamente todo o stress se foi. Na orla tudo estava perfeito, bonito, bem arrumado, com muitas pessoas curtindo uma praia. Aproveitamos pra fazer vários registros.
   Fomos beirando o mar por diversas praias e nem o vento contra nos atrapalhou. Pegamos a estrada PO324 e depois AP325 que tinha uma ciclovia perfeita. Assim conhecemos as praias do Vao, vimos a ilha de Toralla, praia de Oia, praia de Patos e muitas outras.
  Foram uns bons quilômetros por essa ciclovia, curtindo belas praias, com poucas subidas, algumas descidas e muitas partes planas. Eufóricos com esse grande final de dia paramos na praia de Sabaris pensando ser Baiona...hehehe. Terminamos o dia a 35 km da divisa de Portugal.







































   Encontramos um hostel bem barato, tomamos um banho e fomos caminhar à beira mar na procura de algo para comer. Ali descobrimos que Baiona seria a próxima praia e pensamos: Como somos burros! 

Sabaris - Divisa Espanha/Portugal - Póvoa do Varzim - 108 km - 13/07/2016 

   Um dia realmente espetacular, tanto pelas paisagens, quanto pelas emoções. 

   Em poucos minutos estávamos na estruturada orla de Baiona, onde pudemos ver um belo cais e uma fortaleza bem antiga. Depois seguimos por uma ciclovia fantástica que ia beirando o Atlântico e que a cada curva e/ou subida nos revelava mais um lugar incrível. Nesse momento estávamos com um brilho dos olhos e um sorriso enorme no rosto. Além disso, o Marco estava visivelmente ansioso, pois faltavam poucos quilômetros para ele entrar no país de nascimento de seus avós e de sua mãe. Então entre belíssimas paisagens e muita ansiedade percorremos os 35 km até a cidade de A Guarda, a última antes de sair da Espanha.
   Na cidade fizemos uma pequena parada para sacar dinheiro e depois fomos até o ferry que nos levaria a Portugal. Compramos os bilhetes (1 euro) e esperamos quase uma hora para a travessia. Essa espera foi ótima para um bom descanso, uma pequena alimentação e uma boa reflexão dos dias na Espanha































































   Quando o ferry chegou apenas colocamos as bikes num canto e aproveitamos o curto passeio. Conforme a cidade de Caminha ia ficando cada vez mais próxima a ansiedade do Marco aumentava. Quando desembarcamos, a alegria dele ao encontrar a placa de Portugal era nítida. Eu estava visivelmente radiante por entrar em um novo país, mas meu amigo Marco estava realizando um sonho. Show!











   Ficamos um bom tempo registrando a nossa entrada em Portugal e depois seguimos com o intuito de avançar o máximo possível. Passamos pela orla da cidade de Caminha e seguimos até Viana do Castelo com um bom vento de popa. Nesse trecho encontramos um cicloturista argentino que viajava com uma cadelinha de nome Pólvora. Osvaldo já havia feito o trajeto entre o México e a Terra do Fogo e agora estava pedalando pela Europa. Conversamos um pouco, trocamos informações (pois estávamos em sentidos contrários) e nos despedimos.







  




   Em Viana do Castelo tivemos que procurar a ponte correta para sair da cidade e depois "voamos" para Póvoa do Varzim. O bom é que o vento a favor nos ajudou a suportar o forte calor que fez naquele dia, tanto que fizemos apenas duas paradas rápidas entre Viana e Póvoa: a primeira para um sorvete e a segunda para a aquisição de um protetor solar...hehehe
















   Por fim encontramos um albergue do peregrino com custo zero. Isso mesmo, grátis. Cama limpinha, quarto impecável e chuveiro quente, de graça. Bastou-nos um pouco de paciência para entrar em contato com as pessoas responsáveis e pronto. 
   Depois de um bom banho fomos comer algo e ganhamos um belo pôr-do-sol na praia. Que dia!







Póvoa do Varzim - Porto - Espinho - 64 km - 14/07/2016 

   Não sei se foi por causa do cansaço ou pela cama do albergue, mas tive a melhor noite de sono da viagem...hehehe.
   Pois bem, ao sairmos de Póvoa pedalamos poucos quilômetros até Vila do Conde, onde saímos da estrada N13 e fomos em direção às praias. Nesse trecho encontramos uma Padaria chamada "Consigo pão quente" e nos deliciamos com pastéis de belém, mistos quentes e cafés. Miguel, o dono do estabelecimento nos atendeu muito bem e no fim fez questão de tirar uma foto conosco. Quando forem a Vila do Conde, em Portugal, passem nessa padaria, pois não irão se arrepender. Aqui vai o link: https://www.facebook.com/pages/Consigo-P%C3%A3o-Quente/877917375638891













   Em seguida passamos dentro de uma reserva bem arborizada e logo chegamos a praia de Vila Chã. Ali fiz questão tomar um gelado banho no Atlântico Norte. O Marco resolveu só molhar os pés...hehehe
















   Depois pedalamos por uma incrível passarela a beira-mar. O azul do céu e do mar, junto com o verde da vegetação e o branco da areia nos fascinaram. Pedalávamos com um grande sorriso no rosto. Aproveitamos para curtir muito o local, com fotos, vídeos e algumas paradas para sorvetes...hehehe
































   Ainda em êxtase, percorremos um trecho de ciclovia um pouco mais afastado da praia até Matosinhos, onde vimos um farol, o porto de leixões e uma gigantesca ponte que nos levaria a famosa cidade do Porto.
   E quando começamos a atravessar a ponte tivemos uma agradável surpresa: Um brasileiro, natural de Santos, nos chamou. Fábio e sua esposa estavam vivendo a pouco tempo em Portugal e quando viram nossas bikes com a bandeira do Brasil vieram prosear. Papo vai, papo vem, descobrimos que o Fábio era fã da modalidade de cicloturismo, mas ainda não havia feito uma viagem de bike. O incentivamos bastante, demos algumas dicas, trocamos informações e depois seguimos. Um abraço pro casal, vocês são show!














   Do outro lado da ponte já era a cidade do Porto e a primeira impressão foi de dar água na boca, pois estávamos no local chamado Porto da Pesca, cheio de restaurantes e ambulantes vendendo diversos frutos do mar assados. Que delícia!





   Resistimos a tentação e enfim chegamos a orla. E que orla! Além do oceano azul e da areia branca, havia um gigantesco calçadão pelo qual as pessoas transitavam e uma boa ciclovia demarcada no próprio calcadão.
   Devagar fomos apreciando aquele momento ímpar da nossa aventura. Nada de montanhas e/ou sofrimento, apenas trechos planos e uma brisa leve até o rio Douro. Fotografamos, filmamos e contemplamos tudo. 



































   As horas já passavam das duas da tarde quando encontramos um restaurante ao lado do Douro. O preço não foi dos mais baratos, porém nós merecíamos. Durante o almoço brindamos com VINHO DO PORTO, NA CIDADE DO PORTO. 







Havíamos pedalado poucos quilômetros até ali, mas não estávamos nem aí com a distância naquele dia. Comentávamos que a cidade não queria que saíssemos dela...heheeh.
Satisfeitos e um pouco embriagados seguimos devagar até a ponte D.Luis, construída entre 1881 e 1888. Uma belíssima ponte pela qual deixamos para trás a encantadora cidade do Porto.




















   A partir desse trecho não tínhamos mais um planejamento, pois resolvemos mudar o roteiro por causa do escasso tempo. O trajeto planejado seguiria para a Serra da Estrella, no interior do país, mas se seguíssemos o plano não teríamos tempo de conhecer Lisboa. Conversamos nos dias anteriores e durante o almoço, entre alguns goles de vinho, tomamos essa decisão. Paciência, cicloturismo tem dessas...hehehe
   Sem um planejamento nos perdemos um pouco na saída da cidade do Porto, mas logo encontramos a estrada N15 que nos levaria até Aveiro, a Veneza Portuguesa.
   Nessa estrada enfrentamos um trânsito maior, mas bastou uma atenção redobrada e quando nos demos conta já havíamos percorrido uma boa quilometragem no período vespertino. Decidimos pernoitar na praia de Espinho. E que decisão ótima, pois pudemos aproveitar um pôr-do-sol melhor que o dia anterior. 











   Depois buscamos um albergue barato e nem saímos pra comer, apenas dormimos o sono dos justos.

Espinho - Aveiro - Cantanhede - 100 km - 15/07/2016 

   Tudo caminhava para ser um dia monótono de pedalada, mas quis o destino que logo na saída do albergue encontrássemos o Alexandre, um português apaixonado por cicloturismo. Conversamos durante uma hora e descobrimos que ele havia acompanhado as viagens do nosso amigo/irmão Nelson Neto, do saudoso Valdo, da família Fonseca (João, Valerie e filhos), do Arthur Simões, da Sonia Weber, do Antigão e de muitos outros aventureiros. Perguntamos também sobre as suas viagens e ficamos maravilhados com a descrição de alguns lugares pelos quais passou, inclusive a da Serra da Estrela, local que deixamos de conhecer por causa do escasso tempo. No fim pedimos pra ele gravar um vídeo dando um alô para o Nelson e recebemos algumas instruções do caminho a seguir. 




   Seguindo as dicas do Alexandre pedalamos pela orla da cidade de Espinho, um caminho muito bonito numa espécie de ciclovia de madeira que nos rendeu várias imagens. 














   Depois de um tempo, após a passagem por um mangue, a ciclovia sumiu e o único jeito foi voltar aproximadamente 1 km para então encontrar novamente a estrada N-109, já na cidade de Esmoriz, onde fizemos uma parada numa lanchonete. Ali tivemos o segundo encontro do dia: Mohamed, um cicloturista francês, tinha recém iniciado sua aventura em Porto e seguiria pra Lisboa, depois Espanha e por fim França. Dessa vez a prosa foi curta, pois já estávamos atrasados e precisávamos ganhar terreno.








   A saída da lanchonete ocorreu quase meio-dia, com um sol escaldante e uma preguiça enorme...hehehe. Passamos por várias cidades/vilas ou distritos e paramos para almoçar em Esgueira (praticamente região metropolitana de Aveiro). Pensem num almoço bom...hehehe
















   Com o bucho cheio e depois de algumas perguntas feitas aos locais, finalmente encontramos a entrada para a famosa Aveiro, conhecida como "A Veneza portuguesa". 
   Pedalamos direto para a Ria de Aveiro, o canal que deixa a cidade famosa e gostamos muito do que vimos. Realmente lembra um pouco de Veneza. Aproveitamos bastante o local e voltamos para a estrada quase às 17h, mas antes tivemos um furo da câmara dianteira da minha bicicleta. O bom é que enquanto fazíamos a troca da câmara, apreciávamos ainda mais a cidade de Aveiro. 




































   Para finalizar o dia pedalamos mais 50 km, dos quais os últimos 20 foram por vilarejos bem bonitos, pois saímos da estrada principal para pegar um atalho. Nesses vilarejos pudemos ver muitas das tradições portuguesas, principalmente a dos azulejos na fachada das casas. 


























   Já em Cantanhede, encontramos um hotel para descansar e fomos jantar no Mela's Boat, que ficava na parte de baixo do hotel. Pensem numa comida deliciosa.




Cantanhede - Fátima - 107 km - 16/07/2016 

  Degustamos o melhor café da manhã da viagem e saímos do hotel as 9:30. O trajeto pode ser dividido em três partes, sendo a primeira bem agradável por dentro de muitas vilas/cidades com nomes bem diferentes. Passamos por Tentugal, Lavariz, Montemor-o-Velho e seguimos para Condeixa-a-Nova, sempre por estradas pequenas, repletas de árvores e plantações.




 































   A segunda parte foi a mais complicada, pois entramos na estrada IC2 com suas inúmeras subidas e descidas que foram percorridas debaixo de um ardente sol do meio-dia. E, exceto pelas oliveiras, a paisagem deixou de ser interessante. Haja paciência. 
   Sem pensar duas vezes paramos para almoçar no primeiro restaurante que apareceu e quando nos demos conta do preço alto já era tarde. Fica a dica, não deixem a fome vencer a razão...hehehe. Pelo menos comemos muito bem e nos refrescamos bastante.










   A terceira e última parte do dia começou igual a segunda, com muito calor e uma enorme monotonia, mas bastou avistarmos um caminho alternativo para Fátima que tudo mudou. O trajeto era sinalizado do mesmo jeito que o Caminho de Santiago, porém as placas eram brancas. Voltamos a atravessar várias vilas e dessa vez com um novo fator: plantações de oliveiras pra todo lado. Essas plantações já estavam presentes desde que entramos na IC2, mas nesse último trecho elas pareciam mais bonitas por causa contexto de vilarejos...hehehehe.
   Seguindo as placas percorremos os últimos 34 km do dia, com direito a muitas subidas e um encontro com um gigantesco grupo de speedeiros. Nesse encontro ganhamos cerveja, sanduíches e frutas. Agradecemos bastante os nossos novos amigos e tentamos pedalar com eles os últimos 10 km até Fátima, mas obviamente o peso das nossas bikes não deixou...hehehe.













































   Ao chegarmos em Fátima fomos direto para o Santuário. Ali todo o cansaço foi embora, pois quando nos deparamos com aquele templo religioso ficamos atônitos. Que lugar incrível!
   Eu, no que diz respeito a religiosidade, senti uma emoção maior em Fátima do que em Santiago de Compostela. Fátima me passou uma energia espiritual muito forte.














   Quando entramos na basílica ela estava quase fechando, mas mesmo assim pudemos ver rapidamente os túmulos das três pessoas (Lúcia, Jacinta e Francisco) para as quais Maria apareceu. Ali me desliguei por um momento e simplesmente agradeci.
   Depois, já com a lua sobre nossas cabeças, fomos procurar um local para dormir. Encontramos um hostel barato próximo ao Santuário. Terminamos o dia com um passeio a pé pelas ruas turísticas da cidade.










Fátima - Lisboa - 145 km - 17/07/2016 

   Havia chego último dia de pedalada. Nosso caminho seria de Fátima até Lisboa, aproximadamente 140 km. 
   A saída ocorreu perto das nove meia da manhã. Nos perdemos um pouco, mas logo achamos o caminho para seguir até a capital portuguesa. Enfrentamos algumas subidas e descidas até o trevo da cidade de Batalha e depois começamos a ver um parque eólico. Parques eólicos sempre deixam o visual mais bonito...hehehe.













   Foi então que entramos na estrada IC2, onde começou nosso martírio. Seriam 111 km até a capital, com um sobe e desce forte num calor infernal. Que droga! Decidimos não almoçar, mas apenas fazer paradas rápidas para comer algo e nos refrescar. 
   A primeira ocorreu perto do meio-dia. Nela comemos sanduíche e tomamos um chá gelado. Depois seguimos mais 35 km até pararmos na entrada da cidade de Alcoentre, logo depois de sairmos momentaneamente da estrada IC2. Tomamos sorvete e refrigerante, só coisa boa....hehehe.






























   Em seguida enfrentamos subidas e descidas fortes até Alenquer, quando voltamos para monótona IC2. Faltavam 30 km para o nosso destino, a tão sonhada Lisboa. 
   Já podíamos ver o rio Tejo ao longe e como é de se prever, o trânsito aumentou consideravelmente, assim como o número de cidades pelas quais tínhamos que passar. Entre elas uma chamou a atenção: Carregado...hehehe.



















   No fim ainda nos perdemos um pouco, mas bastou olhar no mapa para visualizar o trecho derradeiro e com o sol de pondo chegamos no porto de Lisboa. A missão estava cumprida! De Bilbao, na Espanha, até Lisboa, em Portugal. Yes! Comemoramos bastante, registramos o momento e ligamos o GPS para ir direto à casa dos parentes do Marco: Fernando, Susana e Nuno. O bom é que estávamos a poucos quilômetros da casa deles e o ruim é que no último km apareceu uma subida enorme chamada calçada dos Barbarinhos. Ela parecia o Angliru....hehehe. Sofremos, porém vencemos esse último desafio.












   Fomos muito bem recebidos pelo casal Susana e Fernando e seu filho Nuno , todos parentes que o Marco nunca tinha conhecido. A emoção tomou conta do meu amigo e não demorou muito para que os seus olhos ficassem marejados, principalmente quando a conversa chegou nos seus avós e sua mãe. 
   Entre razões e emoções saboreamos uma deliciosa pizza e depois dormimos o sono dos justos.

2 comentários:

  1. Hola, chamigos
    Aguardando o relato da viagem rsrs (me facilitará traçar meu roteiro)
    (grande semelhança neste texto e no de "Patagonia - de El Calafate a Ushuaia kkk)

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    1. Tenho que começar a relatar essa aventura logo, pois caso contrário vou esquecer muitos detalhes importantes...heehhe
      A semelhança é culpa do Marco. Os dois textos são dele....heheheh

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